Quando se fala em rainha a primeira imagem que vem à cabeça é a da
monarca britânica Elizabeth 2ª. Chefe de Estado do Reino Unido e de
outros 15 países, ela já chegou a ser descrita por um de seus biógrafos
como a “rainha do mundo”. Comemorando seu Jubileu de Diamante, que marca seus 60 anos no trono,
deste sábado à terça-feira de 5 de junho, a monarca de 86 anos está num
dos períodos mais populares de seu reinado dentro e fora de casa.
A rainha que é também celebridade mundial não alcançou reconhecimento
internacional somente por causa da riqueza. Comparando a monarca
britânica com outros reis e rainhas, de acordo com levantamento da
revista Forbes de 2010, ela está em 12º lugar entre os mais
endinheirados do mundo.
O diferencial da realeza britânica e o que a faz conhecida
mundialmente é a pompa e a tradição que envolvem as cerimônias da
família real. Um exemplo disso foi o casamento do príncipe William e de Kate Middleton no ano passado, visto por 2 bilhões de espectadores.
“A nossa monarquia é excelente em fazer cerimônias que são bonitas de
ver. Os casamentos de Charles e Diana e agora o de William e Kate te
levam para um mundo de conto de fadas”, explica a historiadora da
Universidade de Oxford Susan Doran.
Outro ponto importante quando se pensa na popularidade da família
real britânica em relação a outras monarquias tem ligação com a
longevidade do regime no país, que tem mais de 1 mil anos.
“Na Europa os monarcas da França e da Rússia, por exemplo, caíram por
causa de suas revoluções. O kaiser da Alemanha foi deposto, e mesmo
monarquias de países como a Espanha tiveram interrupções. No Reino
Unido, também passamos por revoluções e guerras, mas desde o fim da
invasão romana sempre tivemos rainhas e reis”, diz o historiador da
Universidade Oxford Lawrence Goldman.
Altos e baixos de Elizabeth
Elizabeth 2ª é a 40ª rainha do Reino do Unido e, como quase todos os
monarcas que passaram pelo trono britânico, já teve altos e baixos
durante seu reinado. Uma das crises mais difíceis foi no final dos anos
80 e início dos anos 90, quando a irmã e os filhos começaram a se
divorciar e quando a história da separação e das traições de Diana e
Charles foi parar nos tabloides.
“Os avós e os pais de Elizabeth eram um modelo de família para a
população, e ela, no seu senso de dever público, também tentou manter
isso. Os problemas familiares com o príncipe Charles, que é o herdeiro
do trono, provocaram uma grande crise”, conta o pesquisador David
Carpenter, do King’s College de Londres.
Mas o pior ainda estava por vir. Em 1997, quando a princesa Diana
morreu num acidente de carro na França, Elizabeth 2ª foi pressionada
pela imprensa e pela população a se pronunciar publicamente, a
contragosto, sobre a morte da princesa.
“Quando Diana morreu, a família real estava extremamente impopular, e
os grupos republicanos ganharam força. Mas o impressionante é que nos
últimos dez anos eles conseguiram reconstruir sua imagem”, afirma
Lawrence.
“Acho que parte da superação dessa crise, a maior enfrentada por
Elizabeth, deveu-se ao trabalho da rainha, que sempre colocou o dever
público em primeiro lugar. E agora, depois do casamento de William e
Kate, a monarquia está numa situação muito segura”, considera David
Carpenter.
Por mais popularidade que tenha, a rainha Elizabeth 2ª não é
unanimidade mesmo no Reino Unido. O grupo Republic, por exemplo, faz
campanhas para o fim da monarquia no país. Para a historiadora Susan
Doran, a rainha não reflete a realidade do Reino Unido. “A monarquia
britância é extremamente rica, enquanto o país vem passando por extremas
dificuldades econômicas. Achoo que a popularidade deles hoje decorre da
publicidade ao redor dos príncipes. Mas, para o país, acredito que são
irrelevantes.”
O trabalho da rainha
A rainha Elizabeth não tem poder de governo, e suas ações no
Parlamento são simbólicas. O discurso que faz anualmente na abertura dos
trabalhos do Parlamento é escrito pelo primeiro-ministro, e mesmo a
“aprovação” que concede a um novo premiê depois das eleições é apenas um
ritual, já que não tem direito de interferir no resultado.
“As ações que a rainha cumpre como chefe de Estado não são
relacionadas ao poder, são obrigações da monarca. É uma papel cultural
que ela desempenha”, explica Lawrence.
Apesar de não ter influência direta nas ações do
governo britânico, uma vez por semana ela se reúne com o
primeiro-ministro. São encontros de 30 minutos no final do dia às
quartas-feiras, quando os dois estão em Londres. Doze
primeiros-ministros, de Winston Churchill (1940-1945 e 1951-1955) a
Margareth Thatcher (1979-1990) e o atual, David Cameron (desde 2010), já
passaram pela rainha.
“Por ela já ter vivido tantas crises, guerras e outras situações
políticas, a rainha contribui com os primeiros-ministros por causa de
sua extensa experiência. Também acho que se ela mostra reservas em
relação a algum assunto, o primeiro-ministro pensa duas vezes antes de
tomar uma atitude. Ninguém sabe o que é dito nesses encontros porque
somente os dois ficam na sala”, explica o professor de direito da
Universidade de Birmingham Graham Gee.
Para Graham, um dos grandes trunfos da rainha Elizabeth é não se
pronunciar publicamente sobre a política do país. “Ninguém sabe qual é a
opinião dela. A rainha entende que é um símbolo e, não se pronunciando,
ela se preserva”, diz.
A parlamentar Kate Hoey, do Partido dos Trabalhadores, acredita que o
fato de a rainha não mostrar a sua opinião publicamente é muito
importante. “Para isso já temos a classe política. Elizabeth está acima
dessas discussões, e dessa forma é uma espécie de defensora da
democracia.”
Com a função de projetar a imagem do Reino Unido no exterior, a
rainha recebe anualmente centenas de chefes de Estado e embaixadores de
todo o mundo. Também faz viagens internacionais para promover o reino.
E, em casa, participa de mais de 430 eventos por ano quando visita
escolas, hospitais, fábricas, instituições de caridade e exposições de
arte. “O trabalho da rainha em grande parte é associado a atividades
sociais e culturais”, explica o historiador Lawrence.
Entre os afazeres do dia a dia da monarca, está a leitura dos
principais jornais britânicos e dos relatórios sobre as ações no
Parlamento. Elizabeth 2ª lê e responde, por meio de seus assessores,
parte das 340 cartas que recebe diariamente da população. Entre outros
atributos da rainha está a assinatura de documentos relacionados aos 15
países do Commonwealth, grupo formado por 54 nações independentes que,
com exceção de Moçambique e RUanda, fizeram parte do império britânico.
Formação de rainha
Elizabeth 2ª começou a ser formada para assumir o trono aos 10 anos
de idade. Foi quando o pai dela, George 6º, o rei gago imortalizado no
cinema por Colin Firth em o “O Discurso do Rei”, subiu ao trono. “O tio
de Elizabeth, Edward 8º, abdicou porque queria se casar com uma
americana que já havia se divorcidado por duas vezes. Na época isso era
inaceitável”, conta Carpenter.
Na preparação para liderar a coroa britânica, Elizabeth e a irmã,
Margareth, tiveram aulas particulares de história da constituição e
direito com um professor da melhor e mais tradicional escola do Reino
Unido, a Eton
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