Catalunha, País Basco, Flandres: várias regiões desejam, em maior ou
menor grau, obter independência ou ao menos mais autonomia. Votação na
Escócia pode fortalecer essa chama.
No Leste Europeu, a desintegração da União Soviética e da Iugoslávia
resultou na criação de muitos países. No oeste, entretanto, as
fronteiras semprem pareceram estar fixas. É verdade que houve tendências
separatistas, algumas delas violentas, mas essas iniciativas jamais
tiveram chances reais de atingir seus objetivos.
Essa situação poderá mudar em breve, com o referendo sobre a independência da
Escócia
marcado para 18 de setembro. Londres já afirmou que respeitará a
vontade dos escoceses de sair do Reino Unido, se assim ficar decidido.
Pesquisas indicam que uma vitória do "sim" é possível. Caso aconteça,
ela poderá desencadear uma série de outros movimentos pela independência
no continente.
Escócia
A união entre a Escócia e o Reino Unido, que já dura mais de 300 anos,
poderá chegar ao fim caso a maioria dos escoceses opte pela
independência no referendo marcado para 18 de setembro. A pergunta
direta a ser respondida com "sim" ou "não" sobre a secessão poderia nem
ter sido necessária, caso o governo britânico tivesse permitido uma
terceira opção, oferecendo maior autonomia ao país. É bem provável que a
maioria dos escoceses optasse por essa possibilidade.
No entanto, Londres não considerou essa terceira opção, presumindo que a
possibilidade de uma independência total assustaria a maioria dos
escoceses. Esse plano pode ir por água abaixo. Se a maioria optar pelo
"sim", a Europa testemunhará o renascimento de um Estado escocês já em
24 de março de 2016.
Manifestação em prol do referendo na Catalunha, em 2014
Catalunha
Em nenhuma outra região europeia o "vírus" escocês pela independência poderá ser mais contagioso do que na
Catalunha.
Durante a ditadura do general Francisco Franco na Espanha, de 1936 a
1975, o idioma catalão chegou a ser proibido. Atualmente, a região
possui alto grau de autonomia cultural e política, além de seu próprio
parlamento regional.
Mas, para muitos catalães, isso ainda não é suficiente. Eles querem ter
seu próprio Estado, principalmente por razões econômicas. O argumento é
que a rica Catalunha estaria sendo sugada pelo Estado espanhol.
Desde o início da crise econômica, o número de apoiadores da
independência catalã aumentou significativamente. O governo regional em
Barcelona almeja a realização de um referendo, nos mesmos moldes do
escocês, em novembro. Mas, ao contrário do governo britânico, Madri não
está disposta a aceitar, o que torna o confronto inevitável.
País Basco
O nacionalismo e o idioma basco também foram oprimidos durante o regime
de Franco. O País Basco se encontra em situação econômica pior do que a
Catalunha. Por outro lado, uma minoria dos nacionalistas bascos exerce
militância bem mais ativa. Em 50 anos de tentativas de separar a região
da Espanha, a organização clandestina ETA já causou mais de 800 mortes.
Há três anos, o grupo abdicou formalmente da violência. No entanto, nem
os ataques ou as negociações deixaram o País Basco próximo de realizar
um referendo, menos ainda de obter a independência. Apenas o governo
central da Espanha poderia realizar a consulta popular, o que Madri
rejeita, da mesma forma que faz com a Catalunha.
A Nova Aliança Flamenga comemora êxito nas eleições parlamentares da Bélgica
Flandres
Nas mais recentes eleições parlamentares na Bélgica, a Nova Aliança
Flamenga, sob o comando de Bart De Wever, se tornou a maior força
política da região de Flandres. De Wever está convencido de que o Estado
belga está, de um jeito ou~de outro, fadado ao desaparecimento e almeja
iniciar negociações para a independência de Flandres.
O separatismo flamengo é um caso à parte. A Bélgica é composta por essa
região, cujo idioma é o holandês; pela Valônia, que é de idioma francês e
inclui uma comunidade de língua alemã; e por Bruxelas, oficialmente
bilíngue.
Com a secessão de Flandres, a Bélgica perderia mais da metade de sua
população e de seu poder econômico. Não sobraria muito do país. Um ponto
controverso, nesse caso, é o papel de Bruxelas, sede da União Europeia e
da Otan. Também é incerto o que poderia acontecer com a Valônia. Já
houve rumores de que a região poderia aderir à França, Luxemburgo ou até
à Alemanha. Apesar de tudo, os belgas conseguiram até hoje manter sua
unidade intacta.
"Padania"
O movimento separatista do norte da Itália tem apenas uma motivação. A
região, que conta com as províncias da Lombardia, Aosta, Piemonte,
Ligúria, Veneza e Emília Romana, gera boa parte do PIB italiano com suas
empresas, indústrias e bancos. Alguns afirmam que a Itália central e do
sul desperdiça o dinheiro que se ganha tão arduamente no norte do país.
Nos anos 1990, o partido Lega Nord chegou a clamar pela secessão total
da região que eles próprios denominaram de "Padania", nome derivado da
planíce padana do vale do rio Pó. Nos dias de hoje, a Lega Nord está
mais moderada. No momento, o grupo pede apenas que o norte possa reter
três quartos do dinheiro gerado, em vez de transferi-lo primeiramente a
Roma.
Córsega
Por muito tempo, o governo francês tentou apagar o idioma corso da vida
pública e das escolas da ilha. As tentativas de conquista da autonomia
sempre foram combatidas. Organizações militantes, principalmente o FLNC,
tentaram por anos se libertar da França através da violência, atacando
símbolos do Estado francês e casas de veraneio de cidadãos franceses
continentais.
Neste ano, o FLNC anunciou que abriu mão da violência. Ainda assim, o
potencial explosivo permanece. Em 2000, propostas de autonomia da ilha,
durante o governo do socialista Lionel Jospin, enfureceram a oposição
conservadora. Esta argumenta que, se a autonomia for concedida, outras
regiões, como a Bretanha e a Alsácia, também poderiam exigir suas
independências.
Tradicionalmente, Paris tem pouco respeito por idiomas regionais, uma
vez que os políticos os consideram perigosos para a unidade do país.
O Tirol do Sul é uma região alpina da Itália, de forte presença alemã
Tirol do Sul
No caso do Tirol do Sul, prevalecem os fatores culturais e econômicos. A
região pertencia ao Império Austro-Húngaro até o fim da Primeira Guerra
Mundial, sendo, posteriormente, anexada à Itália. A língua majoritária é
o alemão.
Após um período de "italianização" durante o regime de Benito Mussolini,
o Tirol do Sul pôde conquistar maior autonomia política e linguística
somente após a Segunda Guerra Mundial. A região, muito rica, tem
permissão para reter grande parte de sua própria renda.
Por muito tempo, os cidadãos locais pareciam satisfeitos. Mas a crise da
dívida nacional acendeu uma nova chama no movimento separatista. Após a
Grécia, a Itália é o país mais endividado da zona do euro. Muitos
sul-tiroleses que gozam de boa situação financeira preferem não ter nada
que ver com os problemas italianos. Por esse motivo, cada vez mais
pessoas almejam a separação de Roma.
Baviera
Poucos na Baviera levam a sério a fundação de um Estado próprio. A
região, em seu nome oficial, já é chamada de "Freistaat Bayern", ou
seja, Estado Livre da Baviera. O estado mais ao sul da Alemanha poderia
sobreviver por conta própria, sendo o maior do país, com mais de 13
milhões de habitantes. A população bávara supera a de países como Suécia
e Portugal. Além disso, o estado tem o melhor desempenho econômico do
país.
Se o desejo por mais autonomia na Baviera emergir, será em razão do
acordo financeiro que estipula que os estados mais ricos do país devem
ajudar os mais pobres. Os bávaros gostariam de repassar menos dinheiro
aos outros.
Há, de fato, separatistas bávaros. O político conservador Wilfred
Scharnagel, da União Social Cristã (CSU) – partido que compõe a coalizão
de governo da chanceler federal Angela Merkel – pede a separação da
região do resto do país em seu livro Bayern kann es auch allein ("A
Baviera também consegue sozinha", em tradução livre), de 2012. Mas, até o
momento, não surgiu nenhum movimento separatista relevante.