domingo, 1 de novembro de 2015

AFP premia jornalista tailandesa que cobre julgamentos de lesa majestade

 

 
A jornalista tailandesa Mutita Chuachang recebeu nesta terça-feira o prêmio AFP Kate Webb 2015, por sua cobertura dos julgamentos por crimes de lesa majestade em seu país, que se multiplicaram após a chegada ao poder de uma junta militar em 2014.
O prêmio tem como finalidade apoiar os repórteres que trabalham em condições difíceis na Ásia e deve seu nome a uma jornalista da AFP que cobriu muitos conflitos, entre eles a guerra do Vietnã, e faleceu em 2007 aos 64 anos.
Mutita, de 33 anos, foi premiada por seus esforços para cobrir os julgamentos por crimes de lesa majestade para o jornal on-line Prachatai, que publica em tailandês e inglês.
Na Tailândia, a difamação da família real pode acarretar penas de até 15 anos de prisão por cada crime de acusação e o número de sentenças, assim como a dureza das condenações, se multiplicaram sob a junta militar.
Os julgamentos ocorrem com frequência em segredo e em cortes marciais, sem direito a uma apelação.
O crime também acarreta o estigma social, em uma sociedade na qual se idolatra a monarquia, dirigida pelo rei Bhumibol Adulyadej, de 87 anos.
Como consequência, muitos jornalistas tailandeses preferem evitar os riscos gerados por estas coberturas.
Mas Mutita não se resigna e vai aos tribunais perguntando insistentemente pelas datas e os documentos dos julgamentos.
Seguiu casos como o de estudantes que protagonizaram uma peça de teatro supostamente antimonárquica ou o de um homem acusado de fazer uma pichação difamatória em um banheiro.
Mutita "esteve na linha de frente na luta pela liberdade de expressão na Tailândia, informando de forma persistente sobre os casos de lesa majestade", disse Andrea Giorgetta, da Federação Internacional de Direitos Humanos.
A lei que penaliza estes crimes, conhecida como a "112", "é um assunto sobre o qual a sociedade e os meios tailandeses não querem informar", disse Mutita à AFP.
Formada na Universidade de Thammasat em Bangcoc, Mutita divulgou as situações inverossímeis dos julgamentos: com frequência não pode mencionar os supostos crimes sem correr o risco de estar infringindo - ela própria - a lei.
Com as novas restrições impostas pela junta militar sobre as visitas nas prisões, Mutita não pode mais visitar os detidos, como fazia antes, para ouvir "as histórias de sua própria boca".

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