A FORMAÇÃO DE UM PAÍS
No início dos anos 60 foi descoberto petróleo nos emirados árabes do
Golfo Pérsico, que se encontravam sob proteção britânica. Como seria de
esperar, isto levou a interesses económicos acentuados que conduziram a
inevitáveis mudanças políticas. Na década seguinte, dos nove
territórios, eventualmente Qatar e Bahrain declararam-se como países
independentes e os restantes sete territórios declararam independência
como um país único: os Emirados Árabes Unidos (EAU). Os governantes de
Abu Dhabi e Dubai formaram uma união entre seus dois emirados
independentes, prepararam uma constituição, e chamaram os chefes dos
outros cinco emirados para uma reunião e ofereceram-lhes uma
oportunidade de participar deste novo país. Contra todas as
expectativas, os sete emirados (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm
al-Quwain, Ras al Khaimah e Fujairah) continuam em harmonia a aplicar o
seu programa de desenvolvimento, estando atualmente em 14º no PIB
mundial. A capital e segunda maior cidade dos Emirados Árabes Unidos é
Abu Dhabi, mas cada emirado é uma monarquia controlada por uma família
real, com uma certa soberania sobre o território regional.
O Dubai tem sido governado pela dinastia Al Maktoum, e os seus
Xeques, através das vicissitudes da história, têm transformado este
padrão de deserto, areia e cascalho num dos mais futuristas emirados. A
construção de inovadores e ambiciosos projetos, dos mais altos
arranha-céus a ilhas artificiais em forma de palmeiras e em forma do
Mundo, do mais caro (e espetacular) aeroporto a uma pista de gelo em
pleno deserto, e ainda o mais caro e alto hotel, o único no mundo de
sete estrelas… Após a largada rápida das mochilas no Hotel e de uma
mudança inevitável de indumentária, partimos à descoberta
destafantástica cidade, a cidade do
TRADIÇÃO EM TEMPOS MODERNOS
A cidade parece morta de vida. Nesta hora matutina (6h da manhã) apenas
alguns se aventuram no que ameaça ser um dia de extremo calor, e claro…
nós! A nossa visita resume-se a um dia e este tem de ser criteriosamente
aproveitado. Uma primeira incursão à parte “velha” da cidade, onde
sobrevivem maravilhosamente recuperados exemplos da arquitetura antiga,
de lindas portas ainda encerradas. Junto à linha de água, diversos
souq’s (mercados) agrupam-se, fazendo memória ao outrora grande
entreposto comercial. Olhamos os Abras (pequenas embarcações de madeira)
que cruzam o rio, parecendo tesouros esquecidos do passado, num vivido e
gritante contraste com o cenário da ultra moderna paisagem. Os fumos
negros das resfolegantes embarcações elevam-se nos ares, num movimento
constante de mercadorias, mantendo uma curiosa e inusitada herança
mercantil, acentuada pelas vestes ainda tradicionais dos seus
habitantes. Vagueamos pelas ruelas desertas, prometendo uma incursão
mais tardia que descerrasse as misteriosas portas.
OS MAIORES DO MUNDO
A tradição ainda nos canais do Dubai
Olhamos abismados os edifícios arrojados, da mais moderna
arquitetura, que se erguem orgulhosos na paisagem estéril. O que
pareceria inverosímil, arranha-céus lindíssimos, impossíveis, agrupam-se
num conjunto harmonioso de cidade futurista. Com hora marcada, de modo a
que os bilhetes fossem mais baratos, dirigimo-nos ao mais alto edifício
do mundo, Burj Khalifa, com 828m de altura. Parecendo literalmente
tocar nas nuvens, ergue-se majestoso em direção ao céu arrancando de nós
exclamações genuínas de admiração. Como uma agulha espelhada, reflete a
paisagem urbana circundante, anulando com a sua altura as ambições
de outras altas estruturas. Vagarosamente, apreciando devidamente
“Sua Majestade”, dirigimo-nos ao seu interior onde um elevador
poderosíssimo nos conduzirá ao andar do observatório no 124º andar, em
apenas 59 segundos. Podendo viajar a uma velocidade de até 10 metros por
segundo, a única testemunha de movimento são os ouvidos a estalar. Num
contínuo sentimento de assombro olhamos para a cidade que se estende sob
nós, bem abaixo. Os altos edifícios assumem proporções modestas vistos
de cima, as
pessoas e carros, pequenas formigas quase invisíveis. Sobressaem os
cuidados jardins e piscinas, distribuídos por diversos andares dos
edifícios, conferindo uma nota de cor à cidade de vidro. Para além da
paisagem urbana, para além do smog de calor e fumo apenas o deserto
monocromático, quente, estéril, implacável. Na base do maior edifício do
mundo, fervilha um palco de pessoas que se abrigam do implacável calor,
o Dubai Mall é o maior centro comercial do mundo. Com as mais
prestigiadas (e caras) marcas do mundo, fornece um curioso espetáculo de
modestas e cobertas mulheres pela indispensável burka, num movimento
frenético de compras compulsivas. Famílias inteiras, numerosas, procuram
as diversões oferecidas. Atrai o nosso olhar o aquário gigantesco
plantado neste centro comercial, onde um túnel nos permitiria sentir a
envolvência do oceano e seus habitantes. Resistimos a este apelo e
trocamos o fresco do ar condicionado pelo calor tórrido das ruas, na
ânsia de ver mais desta cidade.
PROJETOS FARAÓNICOS, FABULOSOS
Insensatos, percorremos a pé, o que julgamos distâncias curtas, fiéis à
nossa maneira de conhecer cidades. Rapidamente nos apercebemos
da razão das ruas desertas, da razão de tantos táxis, da razão do
olhar incrédulo de quem pedimos indicações de caminho. Este calor,
isento de qualquer humidade, queima! Em esparsos 300m tomamos
rapidamente a decisão de que assim não pode ser, sendo os transportes e o
táxi tão baratos. De monorail apreciamos a vista de Palm Jumeirah, um
dos três projetos das ilhas artificiais da Palm Islands. As ilhas, no
formato de três palmeiras, são projetos faraónicos e terão como
resultado as maiores ilhas artificiais do mundo, construídas com areia
do deserto. Palm Jumeirah é o menor dos arquipélagos, com um comprimento
de 5 km e largura de 5,5 km, construída com a forma de uma árvore de
palmeira em três partes: um tronco, uma coroa com 17 copas (folhas) e
uma ilha circundante crescente que formará uma barreira às ondas. Do
alto do monorail vemos as graciosas (e grandiosas) habitações alojadas
nas “folhas de palma” e seguimos até ao final da linha, onde se aloja o
grandioso Hotel Atlantis. O formoso hotel de traçado árabe tem 1539
quartos, um centro comercial com tudo o que se possa desejar,
restaurantes, spas e um parque aquático de 17 hectares com piscinas e
lagos de água doce e salgada e um tobogã de 30m de altura, o equivalente
a um prédio de nove andares. Perante os gritos divertidos e frescos de
quem desce a pique no atemorizador escorrega, tomamos a decisão de ir
até à praia, de experimentar as águas do golfo. Apesar destes projetos
megalómanos quando terminados acrescentarem cerca de 520km de praia à
cidade do Dubai, torna-se aqui impossível aceder à praia. Teremos de
procurar a praia pública, e assim fizemos.
O ÍCONE DO DUBAI
Junto à praia de Jumeirah (existe uma parte pública e outras privadas)
ergue-se outro ícone do Dubai, o edifício com forma de vela comissionado
para ser “a cara” do Dubai, O Burj Al Arab. Construído sobre uma ilha
artificial de areia, simboliza a transformação urbana do Dubai e
assemelha-se a uma vela de um dhow, um tipo de barco árabe. Duas colunas
partindo do chão até o topo originaram um “V” formando um imenso
“mastro”, no espaço entre elas foram erguidos os andares.
Com olhos no emblemático edifício, retiramos as sandálias para molhar os
pés nas águas do golfo e para um desejadíssimo mergulho refrescante.
Doce engano, a praia rapidamente se torna insuportável! O calor intenso
da praia deserta não é minimamente atenuado pelo caldeirão das suas
águas, a uns inimagináveis 32 graus centígrados. Nunca em nenhuma parte
do mundo, umas águas de mar são mais quentes do que o duche diário.
Saímos extenuados deste banho de imersão, com as forças reduzidas,
compreendendo agora a predileção dos habitantes do Dubai por piscinas
interiores… climatizadas!
Resta-nos tentar apreciar mais de perto o edifício que nos conduziu
aquela praia. Uma ponte particular impede-nos o acesso ao bonito
edifício e contentamo-nos com as prévias, espantosas, descrições e
bonitas fotografias. Qual libelinha minúscula, um helicóptero aterra na
mais alta estrutura, exclusivamente usada como hotel (entretanto
destronada pela Rose Tower também no Dubai), lembrando-nos do jogo de
ténis aí se desenrolou no seu heliporto. Lugares fantásticos,
inimagináveis, tornam-se agora quase palpáveis e levam-nos a lamentar
não poder ver “O Mundo”. Ainda por terminar, um conjunto de 300 ilhas
artificiais chamadas “The World” assumem no seu conjunto a forma do
mundo. Cada ilha será uma propriedade e dependendo de seu tamanho, os
proprietários poderão construir uma residência nela.
EMOCIONANTES REPUXOS DANÇANTES
O metro de superfície permite-nos olhar para esta cidade inimaginável,
impossível de conceber no mais arrojado filme de ficção científica. Cada
edifício com a sua própria beleza, interesse e utilidade. Vislumbramos
pelo caminho os contornos da inconcebível pista de gelo, a maior pista
interior de gelo. A promessa anterior conduz-nos novamente a Dubai Creek
(zona antiga), onde os mercados se encontram agora concorridos.
Assombram-nos as maravilhosas obras de arte em ouro, encantam-nos os
cheiros das especiarias, fascinam-nos as pessoas que os frequentam. Uma
breve passagem no nosso hotel assinala o rápido passar do dia e
refresca-nos brevemente para a noite no mais alto edifício do mundo. De
regresso ao Dubai Mall embrenhamo-nos no vaivém desenfreado das pessoas,
alternando o fresco do interior com a fonte luminosa do exterior. Com o
Burj Khalifa como pano de fundo, a cada 30 minutos (das 18h às 23h)
é-nos oferecido um fantástico espetáculo de luzes e jatos de água que
sobem a uns impressionantes 150m. Ao som de emocionante música,
assistimos continuamente mesmerizados aos repuxos dançantes que encerram
o nosso dia no Dubai.
Desenha-se em nós a promessa de um regresso a um lugar excecional que
não pode ser certamente visto no relance de um dia, num rápido transfer
de aviões. Desenha-se em nós a promessa de regresso a um ADMIRÁVEL
DESTINO.