A Justiça da Espanha anunciou ontem, em Palma de Mallorca, que vai levar aos tribunais a irmã do atual rei, Felipe VI, Cristina de Borbón, de 49 anos. A ex-infante - ela perdeu o título quando da abdicação de Juan Carlos - é acusada de desvio de recursos públicos no caso Noos, uma referência à empresa criada por seu marido, Inãki Urdangarin. Os dois fazem parte de um grupo de 17 pessoas que será levado às cortes. A acusação formal contra Cristina é um fato inédito na monarquia da Espanha.
A investigação sobre as operações do Instituto Noos foram abertas em julho de 2010, relativas a fraudes supostamente cometidas entre 2007 e 2008 em conluio com autoridades das regiões de Baléares e Valência. Segundo a investigação aberta por crimes fiscais, a entidade teria firmado contratos para a organização de congressos esportivos, cujos pagamentos foram realizados em troca de notas fiscais frias emitidas por empresas de fachada, entre as quais Aizoon, fundada por Urdangarin e por Cristina.
Ainda de acordo com a investigação, Urdangarin seria o cérebro das operações, que teriam contado com a colaboração ativa de Cristina. O genro de Juan Carlos já havia sido indiciado em dezembro de 2011, enquanto sua mulher foi imputada em abril de 2013. Após quatro anos de inquérito, ambos continuam negando responsabilidades.
Em razão dos crimes, o juiz responsável pelo caso, José Castro, solicitou um total de 2,6 milhões de euros a Cristina a título de indenização pecuniária preventiva, enquanto seu marido terá 15 milhões de euros empenhados. Esses valores devem ser depositados em até 20 dias, sob pena de confisco.
Até a abdicação de Juan Carlos e a assunção de Felipe VI, em junho deste ano, Cristina era a número 2 na ordem de sucessão ao trono, atrás de seu irmão, e por essa condição recebia o título de “infante”, equivalente a “alteza real” da Espanha. Com a entronização de Felipe VI, sua filha, Sofía de Borbón y Ortiz, de sete anos, passou a ser a nova infante. Mas, por não ter abdicado de sua condição, Cristina ainda está na linha sucessória da família real, agora ocupando a 6ª posição.
Ao ser revelado, o caso Noos abalou o prestígio da monarquia da Espanha, que ainda não foi restabelecido. Também contribuíram para manchar a imagem da família as fotos do então rei Juan Carlos caçando elefantes em Botsuana, em 2012, no auge da crise econômica que desempregava 25% dos espanhóis, e também e-mails do ex-monarca afirmando que apoiava as atividades empresariais de Urdangarin.
Em resposta aos sucessivos escândalos, Felipe VI prometeu um reinado exemplar, “honesto e transparente”, em sua entronização, cerimônia para a qual Cristina não foi convidada. Mas parte da opinião pública espanhola continua a reivindicar a transformação do sistema político, de monarquia a república. A Casa Real Espanhola informou apenas ter tomado ciência da acusação contra Cristina, garantindo “seu respeito absoluto pela independência da Justiça”.
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