A televisão estatal da Espanha, TVE, proibiu a exibição de um documentário sobre o rei Juan Carlos que foi produzido pela TV pública francesa. A produção foi dirigida por Miguel Courtois e pela jornalista e escritora francesa Laurence Debray, que publicou um livro sobre a história do rei. Ele possui 150 minutos de duração e foi gravado entre o final de 2013 e início de 2014, pouco antes da renúncia, que ocorreu no dia 2 de junho do mesmo ano, após 38 anos de reinado.
A televisão francesa, no entanto, passou o documentário "Yo, Juan Carlos I" como forma de lembrar o aniversário de um ano do fim do mandato. O argumento utilizado por um porta-voz da TVE é de que esse "é um produto que não é atual, pois se trata de um rei que não é mais rei".
A equipe de produção gravou depoimento do rei durante cinco horas, em seu escritório no Palácio de la Zarzuela, que serve de fio condutor sobre a vida do monarca.
As declarações do então rei Juan Carlos e de seu filho, na época, o príncipe Felipe, adquirem maior importância se for considerado que eles sabiam que haveria uma abdicação em breve. Nenhum membro da produção sabia disso.
O rei foi vendo imagens de sua vida na televisão e foi questionado por Debray durante esses momentos. Assim, ele afirmou que "os piores momentos do meu reinado foram os assassinos terroristas, com que os espanhóis sofreram durante muitos anos, tendo mais de 800 pessoas mortas".
Ele falou também sobre a abdicação de seu pai, o rei Juan de Bourbon, em 1977, e disse que seu discurso em La Zarzuela "deveria ter sido mais solene e com mais pompa do que como foi".
O rei relembra também sobre sua primeira reunião com o ditador Francisco Franco (1939-1975). "Eu era um garoto. Ele falava não sei sobre quais coisas e a verdade é que eu não o escutava porque tinha um pequeno rato correndo por seu escritório. A única coisa que fazia era olhá-lo", disse o ex-soberano.
Quando foi perguntado sobre quais as razões que o fizeram aceitar a ficar ao lado de Franco durante tantos anos e herdar o governo do ditador, ele respondeu que "se não tivesse aguentado o quanto eu aguentei, não teria acontecido o que logo ocorreu na Espanha: a reinstalação da democracia e da monarquia parlamentar".
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