quarta-feira, 12 de junho de 2013

Vestígios da ditadura militar são mantidos em escolas da Tailândia

 

 

Deixe de lado por um momento a imagem que os turistas em geral têm da Tailândia, de um país relaxante e permissivo. Para os estudantes tailandeses, a impressão é bem diferente. Com uma filosofia enraizada na antiga ditadura militar, nas escolas locais prevalece a disciplina e deferência.

Em uma escola pública no subúrbio industrial de Bangcoc, professores empunham varas de bambu e repreendem os alunos que estejam com cabelos compridos – eles ordenam que sejam cortados lá mesmo. Os estudantes passam por inspeções para encontrar unhas sujas, meias coloridas ou qualquer outra violação do código de vestimenta da escola. “No ensino fundamental, os estudantes têm todos a mesma aparência”, diz o vice-diretor Arun Wanpen.
Antes de iniciar as aulas, um mar de alunos uniformizados, todos com cabelos pretos e curtos (não é permitido que pintem os cabelos), cantam o hino nacional, recitam uma prece budista e repetem um juramento de sacrificar suas vidas pela nação, amar o rei e “não causar problemas”.
Mas com o legado do regime militar se apagando, alguns estudantes começam a desafiar – com algum sucesso – um sistema que enfatiza a obediência sem questionamento. E eles encontraram um aliado de peso dentro de um governo que procura reduzir o papel dos militares na vida civil. O próprio ministro da educação defende mudanças radicais no sistema de ensino e criou um comitê de revisão curricular.
 
No ano passado, o estudante Nethiwit Chotpatpaisan, também conhecido como Frank, criou uma campanha no Facebook pedindo a abolição do sistema “mecanicista” de educação. Seu grupo, chamado de Aliança Tailandesa pela Revolução Educacional, ganhou notoriedade nacional em janeiro, quando Frank falou a um importante programa de TV.
Frank descreve os professores como “ditadores” que ordenam que os estudantes se curvem a eles e nunca os contradigam. “A escola é como uma fábrica de pessoas idênticas”, criticou Nawaminthrachinuthit Triam Pattanakarn, aluno da escola onde Arun é vice-diretor.
O ministro da educação, Phongthep Thepkanjana, que estudou Direito nos Estados Unidos, prometeu deixar que os estudantes tenham cabelos compridos e propôs mudanças no sistema de ensino para reduzir a ênfase na memorização e promover o pensamento crítico. “Não queremos que os estudantes sejam protótipos que sigam ordens, não queremos que eles fotocopiem conhecimento em seus cérebros. Queremos que sejam indivíduos com raciocínio”, afirmou.
Phongthep propõe menos lição de casa e menos horas na escola, além de um currículo que se foque no essencial de língua, matemática e ciências. Na era da Wikipedia, ele diz, não faz sentido ficar decorando nomes e tamanho de rios obscuros na África, como se pede atualmente aos alunos.
O ministro defende que seria bom para a democracia do país, que já sofreu inúmeros tropeços em sua jornada de oito décadas desde o fim da monarquia absoluta, que os estudantes fossem encorajados a formar opinião e debater. “Se os alunos não podem dizer suas opiniões em sala de aula, como vão exercitar a liberdade de expressão na sociedade?”, questiona.
No início deste ano, Phongthep anunciou um relaxamento da norma sobre o cabelo, algo que carrega grande simbolismo, pois ela foi constituída pelo governo militar em 1972. Hoje as meninas devem ter os cabelos cortados logo abaixo da orelha, e os meninos devem usá-los raspados nas laterais, como cadetes. A nova regra ainda espera aprovação do gabinete do governo.
O modelo atual, no entanto, tem seus defensores. Estudar muito e por longas horas costuma ser considerado um dos principais ingredientes do milagre econômico do leste asiático. É esse modelo que a Tailândia, que tenta entrar no clube das nações mais ricas da região, tentava imitar.
A principal resistência às mudanças vem dos servidores civis, para quem revisar o currículo seria uma tarefa colossal. No caso do código de vestimenta, administradores escolares já dão sinais de que podem recusar alterações que considerem muito lenientes. “Se o governo lançar novas políticas, vamos analisá-las e decidir quais são apropriadas para nós”, afirmou.
Mas o ministro da educação diz que os estudantes estão sufocados pelo sistema, e as escolas têm muito a melhorar. Nos exames nacionais, os resultados vêm piorando; no cenário global, o país ficou em 52º lugar em matemática no Programa de Avaliação Internacional dos Estudantes (Pisa) de 2009 – na edição, eram 65 países participantes. Alunos de Shangai e Cingapura ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente.

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