domingo, 14 de dezembro de 2014

Petróleo deverá manter preços baixos, entre 70 e 80 dólares, em 2015

 

O petróleo vai manter-se com preços baixos em 2015, ao mesmo nível dos que apresenta actualmente, na casa dos 70 a 80 dólares por barril, acreditam a maioria dos especialistas contactados pela Lusa.
Na origem desta previsão está o actual excesso de produção com origem nos Estados Unidos, além do arrefecimento económico nos mercados emergentes, na Europa e no Japão, que deverão continuar a provocar uma procura mais baixa por esta matéria-prima.
"No próximo ano, ou ano e meio, prevejo que o petróleo se irá manter na casa dos 80 dólares", afirmou António Costa e Silva, presidente executivo da companhia petrolífera Partex Oil and Gas, detida pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Em primeiro lugar, este especialista lembra que existe "excesso de petróleo no mercado, provocado pela exploração de 'shale oil' nos Estados Unidos, que em 2008 produzia cerca de seis milhões de barris por dia, e hoje produz cerca de 11 milhões".
A descoberta do chamado 'shale oil', petróleo resultante da fragmentação de rochas geradoras de hidrocarbonetos, está ligada à exploração do 'shale gas', gás natural que tem a mesma origem.
Costa e Silva sublinha que este aumento de produção tem "grandes consequências geopolíticas", uma vez que os Estados Unidos estão a disputar com a Arábia Saudita a liderança mundial do sector. Ainda mais quando este país "não é da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], cartel que está a perder influência".
Por sua vez, a própria Arábia Saudita parece estar a apostar num ciclo de preços mais baixos, aproveitando que tem "reservas monetárias de cerca de 800 mil milhões de dólares", acrescenta.
O presidente da Partex acredita que o objectivo dos sauditas é fragilizar países concorrentes como o Irão, "que no mínimo precisa de um preço de 115 dólares por barril para manter o equilíbrio orçamental", e também "minar alguns projectos de exploração petrolífera mais caros, como o 'shale oil'".
Um sinal de que é essa a estratégia da monarquia saudita foi a decisão saída da reunião da OPEP no dia 27 de Novembro. A economista-chefe do banco BPI, Paula Carvalho, lembra que os resultados do encontro apontam para "a manutenção dos níveis de 'output' [produção petrolífera], recusando-se o cartel a baixar a produção como tentativa de sustentar os preços".
Para que os preços do petróleo se mantenham baixos durante o ano de 2015 contribui também "o fraco dinamismo da economia mundial", especialmente na zona euro e nas maiores economias emergentes, "que estão a lidar com problemas internos de reequilíbrio e de crescimento", acrescenta Paula Carvalho, que exemplifica com o caso da China, uma grande consumidora de energia.
"Pelo que tudo indica, os preços rondarão os 70 a 80 dólares por barril até que surjam sinais muito concretos de retoma dos principais blocos económicos mundiais", prevê a mesma responsável.
Já o secretário-geral da Apetro-Associação Portuguesa das Empresas Petrolíferas, António Comprido, avisa que "a história demonstra que todas as previsões normalmente falham".
"No Verão andavam todos preocupados que o preço do petróleo fosse atingir 150 dólares por barril, por causa da crise do Estado Islâmico, e neste momento anda à volta dos 80 dólares. Podemos prever tudo, mas o mais provável é que nos enganemos", assume.
António Comprido concorda que o "crescimento relativamente anémico" da economia mundial, especialmente dos mercados emergentes, pressiona os preços para baixo. Mas em contrapartida, "os preços já desceram tanto que começam a pôr em causa o 'shale gas' e outras explorações não convencionais de petróleo", que têm maiores custos.
Se esses projectos mais caros reduzirem a produção, haverá pressões para um encarecimento do crude, sustenta o representante da Apetro.
Há que contar ainda com uma eventual mudança de estratégia

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