sábado, 2 de junho de 2012

A RAINHA QUE TRABALHA

Quando se fala em rainha a primeira imagem que vem à cabeça é a da monarca britânica Elizabeth 2ª. Chefe de Estado do Reino Unido e de outros 15 países, ela já chegou a ser descrita por um de seus biógrafos como a “rainha do mundo”. Comemorando seu Jubileu de Diamante, que marca seus 60 anos no trono, deste sábado à terça-feira de 5 de junho, a monarca de 86 anos está num dos períodos mais populares de seu reinado dentro e fora de casa.
A rainha que é também celebridade mundial não alcançou reconhecimento internacional somente por causa da riqueza. Comparando a monarca britânica com outros reis e rainhas, de acordo com levantamento da revista Forbes de 2010, ela está em 12º lugar entre os mais endinheirados do mundo.
O diferencial da realeza britânica e o que a faz conhecida mundialmente é a pompa e a tradição que envolvem as cerimônias da família real. Um exemplo disso foi o casamento do príncipe William e de Kate Middleton no ano passado, visto por 2 bilhões de espectadores.
“A nossa monarquia é excelente em fazer cerimônias que são bonitas de ver. Os casamentos de Charles e Diana e agora o de William e Kate te levam para um mundo de conto de fadas”, explica a historiadora da Universidade de Oxford Susan Doran.
Outro ponto importante quando se pensa na popularidade da família real britânica em relação a outras monarquias tem ligação com a longevidade do regime no país, que tem mais de 1 mil anos.
“Na Europa os monarcas da França e da Rússia, por exemplo, caíram por causa de suas revoluções. O kaiser da Alemanha foi deposto, e mesmo monarquias de países como a Espanha tiveram interrupções. No Reino Unido, também passamos por revoluções e guerras, mas desde o fim da invasão romana sempre tivemos rainhas e reis”, diz o historiador da Universidade Oxford Lawrence Goldman.

Altos e baixos de Elizabeth
Elizabeth 2ª é a 40ª rainha do Reino do Unido e, como quase todos os monarcas que passaram pelo trono britânico, já teve altos e baixos durante seu reinado. Uma das crises mais difíceis foi no final dos anos 80 e início dos anos 90, quando a irmã e os filhos começaram a se divorciar e quando a história da separação e das traições de Diana e Charles foi parar nos tabloides.
“Os avós e os pais de Elizabeth eram um modelo de família para a população, e ela, no seu senso de dever público, também tentou manter isso. Os problemas familiares com o príncipe Charles, que é o herdeiro do trono, provocaram uma grande crise”, conta o pesquisador David Carpenter, do King’s College de Londres.
Mas o pior ainda estava por vir. Em 1997, quando a princesa Diana morreu num acidente de carro na França, Elizabeth 2ª foi pressionada pela imprensa e pela população a se pronunciar publicamente, a contragosto, sobre a morte da princesa.
“Quando Diana morreu, a família real estava extremamente impopular, e os grupos republicanos ganharam força. Mas o impressionante é que nos últimos dez anos eles conseguiram reconstruir sua imagem”, afirma Lawrence.
“Acho que parte da superação dessa crise, a maior enfrentada por Elizabeth, deveu-se ao trabalho da rainha, que sempre colocou o dever público em primeiro lugar. E agora, depois do casamento de William e Kate, a monarquia está numa situação muito segura”, considera David Carpenter.
Por mais popularidade que tenha, a rainha Elizabeth 2ª não é unanimidade mesmo no Reino Unido. O grupo Republic, por exemplo, faz campanhas para o fim da monarquia no país. Para a historiadora Susan Doran, a rainha não reflete a realidade do Reino Unido. “A monarquia britância é extremamente rica, enquanto o país vem passando por extremas dificuldades econômicas. Achoo que a popularidade deles hoje decorre da publicidade ao redor dos príncipes. Mas, para o país, acredito que são irrelevantes.”
O trabalho da rainha
A rainha Elizabeth não tem poder de governo, e suas ações no Parlamento são simbólicas. O discurso que faz anualmente na abertura dos trabalhos do Parlamento é escrito pelo primeiro-ministro, e mesmo a “aprovação” que concede a um novo premiê depois das eleições é apenas um ritual, já que não tem direito de interferir no resultado.
“As ações que a rainha cumpre como chefe de Estado não são relacionadas ao poder, são obrigações da monarca. É uma papel cultural que ela desempenha”, explica Lawrence.


Apesar de não ter influência direta nas ações do governo britânico, uma vez por semana ela se reúne com o primeiro-ministro. São encontros de 30 minutos no final do dia às quartas-feiras, quando os dois estão em Londres. Doze primeiros-ministros, de Winston Churchill (1940-1945 e 1951-1955) a Margareth Thatcher (1979-1990) e o atual, David Cameron (desde 2010), já passaram pela rainha.
“Por ela já ter vivido tantas crises, guerras e outras situações políticas, a rainha contribui com os primeiros-ministros por causa de sua extensa experiência. Também acho que se ela mostra reservas em relação a algum assunto, o primeiro-ministro pensa duas vezes antes de tomar uma atitude. Ninguém sabe o que é dito nesses encontros porque somente os dois ficam na sala”, explica o professor de direito da Universidade de Birmingham Graham Gee.
Para Graham, um dos grandes trunfos da rainha Elizabeth é não se pronunciar publicamente sobre a política do país. “Ninguém sabe qual é a opinião dela. A rainha entende que é um símbolo e, não se pronunciando, ela se preserva”, diz.
A parlamentar Kate Hoey, do Partido dos Trabalhadores, acredita que o fato de a rainha não mostrar a sua opinião publicamente é muito importante. “Para isso já temos a classe política. Elizabeth está acima dessas discussões, e dessa forma é uma espécie de defensora da democracia.”
Com a função de projetar a imagem do Reino Unido no exterior, a rainha recebe anualmente centenas de chefes de Estado e embaixadores de todo o mundo. Também faz viagens internacionais para promover o reino. E, em casa, participa de mais de 430 eventos por ano quando visita escolas, hospitais, fábricas, instituições de caridade e exposições de arte. “O trabalho da rainha em grande parte é associado a atividades sociais e culturais”, explica o historiador Lawrence.
Entre os afazeres do dia a dia da monarca, está a leitura dos principais jornais britânicos e dos relatórios sobre as ações no Parlamento. Elizabeth 2ª lê e responde, por meio de seus assessores, parte das 340 cartas que recebe diariamente da população. Entre outros atributos da rainha está a assinatura de documentos relacionados aos 15 países do Commonwealth, grupo formado por 54 nações independentes que, com exceção de Moçambique e RUanda, fizeram parte do império britânico.
Formação de rainha
Elizabeth 2ª começou a ser formada para assumir o trono aos 10 anos de idade. Foi quando o pai dela, George 6º, o rei gago imortalizado no cinema por Colin Firth em o “O Discurso do Rei”, subiu ao trono. “O tio de Elizabeth, Edward 8º, abdicou porque queria se casar com uma americana que já havia se divorcidado por duas vezes. Na época isso era inaceitável”, conta Carpenter.
Na preparação para liderar a coroa britânica, Elizabeth e a irmã, Margareth, tiveram aulas particulares de história da constituição e direito com um professor da melhor e mais tradicional escola do Reino Unido, a Eton

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