segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Moscou rejeitou trocar apoio à Síria por contrato com a Arábia Saudita


Putin recebeu no Kremlin, no dia 31 de julho, a visita do príncipe Bandar ben Sultan, chefe dos serviços secretos da Arábia Saudita mas não foi feito qualquer comentário oficial sobre o encontro.
Um diplomata europeu com ligações em Beirute e Damasco disse  que o príncipe, que tinha reuniões normais com os homólogos dos serviços secretos de Moscovo, "desta vez" pediu para ser recebido pelo presidente.
Ben Sultan propôs à Rússia um contrato de armamento no valor de 15 milhões de dólares, além de investimentos "consideráveis" sauditas no país.
Uma outra fonte disse que o príncipe comunicou a Putin que "qualquer que seja o regime" que venha a suceder a Assad, na Síria, "vai ficar inteiramente nas mãos dos sauditas, que não vão permitir aos países do Golfo a passagem de gasodutos através da Síria para que a concorrência do gás russo consumido pela Europa fosse preservada".
Em 2009, Assad recusou a assinatura de um projeto do Qatar para construção em território sírio de um gasoduto entre o Golfo e a Europa, para proteger a Rússia, o principal fornecedor de gás à Europa.
De acordo com um diplomata árabe com contactos em Moscovo "o presidente Putin escutou de forma polida o interlocutor e fez saber que o país não vai alterar a estratégia, apesar das propostas".
"Bandar ben Sultan pediu depois aos russos para compreenderem que se a única opção é militar é preciso esquecer Genebra", acrescentou o mesmo diplomata.
As conversações de paz de Genebra são defendidas pela Rússia e pelos Estados Unidos mas não se conhecem êxitos até ao momento.
Questionado pela AFP sobre os restantes objetivos do encontro de Moscovo, um político sírio que não foi identificado respondeu que tal como aconteceu com o Qatar, a Arábia Saudita considera que a política consiste na compra de pessoas ou do país e que os sauditas não compreendem que a Rússia é "uma grande potência" que não determina a política dessa forma.
"A Síria e a Rússia têm relações estreitas há mais de meio século em todos os domínios e não são os sauditas que vão fazer alterações", acrescentou.
As relações entre Moscovo e Riade estão a ficar marcadas por alguma tensão provocada pelo conflito na Síria, tendo Moscovo acusado Riade de "financiar e armar os grupos terroristas e os grupos extremistas" presentes num conflito que, segundo as Nações Unidas, já fizeram mais de 100 mil mortos.
Especialistas russos também acreditam que Putin rejeitou a oferta dos sauditas.
"Um acordo tão extremo como esse é pouco provável" disse Alexandre Goltz, especialista em questões militares do jornal online russo da oposição Ejednevny , acrescentando que para Putin, "Assad é uma questão de princípio".
"Apesar de 15 milhões de dólares, uma quantia considerável e que representa um número igual aos lucros de dois anos para a Rosobornext (agência russa de exportação de armas) não têm qualquer efeito", acrescentou.
"Este tipo de desinformação serve sobretudo para destabilizar Assad e o círculo de poder em Damasco", disse Andrei Soldatov especialista independente sobre questões de segurança.
"A posição de Assad está a reforçar-se e o Kremlin está consciente de que a traição neste quadro é demasiado forte", sublinhou o especialista.

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