sábado, 19 de outubro de 2013

Novo líder do Butão quer realizar objetivos concretos

 

 

 
  Acho que posso ganhar se jogar basquete mano a mano com o Presidente Obama. Eu tenho umas jogadas especiais — disse o recém-eleito primeiro-ministro do Butão em uma entrevista recentemente.
O primeiro-ministro, Tshering Tobgay, tem 10,2 centímetros a menos do que Barack Obama, por tanto, ganhar do presidente dos Estados Unidos na cesta pode ser difícil. Entretanto, depois de sua eleição surpresa este ano, quase ninguém no sul da Ásia duvida que ele tenha jogadas especiais. E ele é conhecido por sua garra.
Quatro anos atrás, enquanto competia na primeira edição da Turnê do Dragão, considerada a corrida de mountain bike de um dia mais difícil do mundo, ele caiu e quebrou a mandíbula depois de pedalar 67,6 km. Sentindo uma dor absurda, ele subiu na bicicleta e pedalou até o fim da corrida – cerca de outros 200 km.
Tobgay, de 48 anos, era um de apenas dois membros da oposição, escolhidos pelos eleitores na primeira eleição parlamentar do Butão, em 2008, e poucos lhe deram até mais do que chances de derrubar o Partido da Paz e da Prosperidade do Butão no segundo turno da eleição nacional, em julho.
Vários fatores foram de encontro a ele, incluindo uma crise cambial em 2012 e ameaças da Índia, bem antes da votação para retirar o vital apoio financeiro. No entanto, muitos analistas dão a Tobgay o crédito de concorrer em uma campanha excepcionalmente disciplinada que incluiu um longo manifesto de promessas específicas. Seu Partido Democrático do Povo levou 32 dos 47 lugares, uma vitória retumbante.
Filho de um soldado, Tobgay foi mandado a um internato perto de Darjeeling, Índia, quando tinha 5 anos. Depois de se formar no ensino médio, ele ganhou uma bolsa do governo para frequentar a Universidade de Pittsburgh, onde recebeu um diploma de engenheiro mecânico. Em 1991, ele se tornou funcionário público no Ministério da Educação do Butão, mas deixou o serviço público em 2007 para mergulhar na política. Ele é casado e tem dois filhos.
Agora, ele dirige um país de 725 mil pessoas no meio de uma das transformações mais completas do mundo. O sistema feudal do Butão permaneceu até 1953, e sua primeira estrada foi construída em 1962.
— Nos últimos anos, nós nos transformamos além do imaginável – politica, econômica e socialmente — disse Tobgay.
Ele abandonou, em grande parte, a medida de Felicidade Interna Bruta (FIB) característica do país, uma alternativa para o Produto Interno Bruto. Apresentado em 1972 pelo rei Jigme Singye Wangchuck, o FIB foi visto como uma maneira de equilibrar a entrada gradual da modernidade no país com o esforço de preservar as tradições.
O antecessor de Tobgay, Jigme Thinley, viajou o mundo promovendo a medida de felicidade, tornando-se figura popular entre os acadêmicos e literatos ocidentais, mas não tanto entre seus compatriotas.
O leque de promessas modestas de Tobgay, durante a campanha eleitoral, incluiu um cultivador motorizado para cada vila e um veículo utilitário para cada distrito. Felicidade não estava na lista.
— Ao invés de falar sobre a felicidade, nós queremos trabalhar na redução de obstáculos até a lá — disse ele.
Esses obstáculos permanecem substanciais, incluindo uma crescente dívida nacional e o alto desemprego. A infraestrutura do Butão, ainda lamentavelmente inadequada, foi criada praticamente inteira por empresas e trabalhadores indianos. No começo, o Butão dependia da Índia porque poucos butaneses tinham as habilidades necessárias. Agora, uma geração mais educada e urbanizada está recusando trabalhos em construções como abaixo disso.
— Resumindo, nós temos que trabalhar ainda mais duro. Nós precisamos plantar nossa própria comida, construir nossas próprias casas — disse Togbay.
Ele lamentou que tantos jovens do Butão estivessem voluntariamente desempregados.
— Se pudermos reestruturar o setor de construção para torná-lo mais atraente, isso geraria um monte de empregos. —
As principais indústrias do país são a energia hidrelétrica, exportada para a Índia, e o turismo. Enquanto a maioria da população ainda está envolvida com agricultura de subsistência, um crescente número de pessoas estão abandonando suas tradicionais casas de família de barro e madeira em vilas isoladas e se mudando para povoados e cidades do país.
— Quem quer trabalhar com agricultura de subsistência, acordar às 4h e carregar água sem precisar? — perguntou Paljor Dorji, membro da família real e conselheiro de longa data do antigo rei.
— Uma vez que você educa as pessoas, ninguém vai viver a mesma vida miserável que os pais viveram. —
Entre 2005 e 2012, mais de 1,3 mil prédios foram construídos na capital do Butão, Thimphu, e eles agora abrigam praticamente dois terços dos 116 mil moradores da cidade.
Diferente da maioria das cidades no sul da Ásia, Thimphu está se desenvolvendo com diretrizes precisas, que incluem rodovias adequadas, esgotos e escolas. A cidade pede que todos os prédios incorporem elementos da arquitetura tradicional butanesa como telhados inclinados, janelas diferentes e projeções nos andares superiores, tornando a cidade como uma miniatura de Vail, no Colorado.
Thimphu é uma cidade agradável para caminhar, com nenhum dos viveiros caóticos presentes em muitas cidades indianas. Seu povo é alegre, seus comerciantes não mostram a agressividade comum no sul da Ásia e até os cachorros vira-lata parecem bonzinhos. Não há favelas.
Tobgay eliminou algumas restrições impostas pelo governo anterior, incluindo proibições ocasionais no tráfego de veículos e um código de vestimenta exigindo que homens usassem um ghos – traje tradicional que lembra um vestido. Ele reconhece que preservar a cultura tradicional do país seria um desafio em uma era de urbanização rápida.
A família real do Butão é reverenciada, e críticas à realeza permanecem como algo inimaginável. Contudo, há uma mídia nacional alegre, e as muitas, e crescentes, instituições democráticas e educacionais tornaram o Butão o queridinho do desenvolvimento e das organizações financeiras não governamentais.
— Butão é uma história de sucesso excepcional. É um raio de luz no sul da Ásia, e estabelece uma nova referência quando falamos com outros países — disse Sekhar Bonu, do Banco Asiático de Desenvolvimento.
Tobgay disse que uma de suas principais prioridades foi reprimir a corrupção política em curso. O governo anterior estava considerando medidas que teriam enfraquecido a agência anticorrupção do país mas, Tobgay, que recusou a limusine e as acomodações luxuosas de seu antecessor, disse que planeja reforçá-las.
— Se a corrupção entrar e se enraizar, estaremos perdidos. Precisamos nos assegurar que as regras da lei prevaleçam — disse Tobgay.
Ele planeja fazer um programa de rádio semanal para onde as pessoas possam ligar, realizar coletivas de imprensa e ter horários durante o expediente nos quais as pessoas podem chegar e reclamar. Ele tem um blog, uma conta no Twitter e usa com frequência o Facebook.
— Me adicione — disse ele com um sorriso arteiro.
Thinley, ex-primeiro-ministro, fez lobby por uma cadeira não permanente no Conselho de Segurança da ONU, abriu novas embaixadas e manteve conversas com a China, esforços que alarmaram a Índia. Tobgay já prometeu acabar com grande parte desse alcance internacional.
— Abrir embaixadas custa caro. Nós precisamos entender que somos pobres — disse ele.
Ele mostrou clara preferência pela Índia, que dá uma assistência financeira considerável ao Butão, em relação à China.
— A amizade entre a Índia e o Butão transcende partidos políticos e personalidades —disse com um certo zelo. Quando questionado sobre o outro vizinho do país, ele pareceu desanimado.
— Nós nos envolvemos com a China. É uma realidade. —
E, enquanto ele pretende gastar pouco tempo com assuntos internacionais, ele disse que faria uma exceção para jogar basquete com Obama.
— Eu preciso praticar minha cesta de três pontos, afiar meus cotovelos e fortificar meus ombros — disse ele com um entendimento claro da diplomacia estrangeira. Os Estados Unidos são "uma superpotência então, minha única chance é no mano a mano."
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário