segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ALGUMAS DIFERENÇAS NAS MONARQUIAS ARABES

Egipto e o Iémen são os dois países do mundo árabe com situação mais próxima da Tunísia mas as populações interrogam-se sobre as consequências de uma revolta semelhante à tunisina, disse em entrevista à Lusa um analista político marroquino.


"Existem dois países com uma situação semelhante à Tunísia, o Egipto e o Iémen. Falamos de Ben Ali [o ex-Presidente da Tunísia], que governava desde 1987, há 24 anos, mas o Presidente Hosni Mubarak governa no Egipto desde 1981, há 30 anos. E o Presidente iemenita Ali Abdullah Saleh, está no poder desde 1979, há 32 anos", lembra Mohamed Darif, 52 anos, professor de Ciência Política na Universidade Hassan II/Mohammedia, em Casablanca.



A natureza dos regimes na região constitui outro factor decisivo para avaliar a possibilidade de uma revolta generalizada nos países árabes, divididos em monarquias e repúblicas.



"Actualmente o problema agrava-se no que designamos por regimes republicanos, porque a maioria destes regimes é dirigida por militares. No caso da Tunísia, Zine Abidine Ben Ali é um militar; na Líbia, Muhammar Kadhafi é um militar; no Egipto, Hosni Mubarak é um militar; no Iémen, Ali Abdullah Saleh é um militar e na Mauritânia, o Presidente Mohamed Abdel Aziz é um militar", sublinha o analista.



Para Mohamed Darif, ao contrário das monarquias árabes, onde os protestos da população têm como "alvo privilegiado" os governos, nos regimes de natureza republicana existe uma necessidade de permanente legitimação através da realização de eleições presidenciais, "onde todos falam de democracia".



"Marrocos, Jordânia, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Bahrein, Oman, são regimes onde a monarquia não é contestada pela população. Em Marrocos as manifestações são contra o governo, não contra a monarquia. O mesmo sucede na Jordânia e nos outros países", assevera.



E a este nível, a Tunísia constituía uma excepção: "Ao contrário de Marrocos ou mesmo da Argélia republicana ", recorda o analista marroquino.




O "efeito dominó" na região, que tem sido admitido por diversos analistas, parece assim afastado de momento, também devido às lições da revolta tunisina.




Neste país magrebino, e apesar de o Presidente Ben Ali ter abandonado o país, o anunciado governo de transição integra muitas figuras próximas do ex-chefe de Estado, e que já começam a ser contestadas nas ruas.




"A população magrebina, árabe, agora considera seriamente que não é suficiente organizar manifestações para afastar o chefe de Estado. É necessário que esse processo seja enquadrado por uma força política que pudesse substituir o regime no poder", conclui Mohamed Darif.