segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Comissão de investigação sobre a morte da família real russa

Um dos responsáveis da comissão de investigação, Vladimir Soloviov, citado na segunda feira pelo diário russo Izvestia, afirmou que "participaram na investigação os principais peritos sobre este tema, historiadores, arquivistas. E posso dizer que não há nenhum documento credível a provar que isso [a execução] tenha sido levada a cabo por ordem de Lenine ou de Sverdlov".

A investigação foi concluída na passada quinta feira, 14 de Janeiro, após ser reaberta em Maio passado a pedido de descendentes da família imperial. Antes disso, o Supremo Tribunal russo considerara em Outubro de 2008 o czar Nicolau II, a sua mulher e cinco filhos como "vítimas de repressão política". Mas, no início do ano seguinte, a investigação fora arquivada porque os membros da comissão concluiram que não se tratava de um caso político e sim de delito comum.

A família imperial fora fuzilada em 17 de Julho de 1918, na casa onde se encontrava detida. O czar Nicolau II pedira asilo na Grã-Bretanha após o fim da monarquia, em Fevereiro de 1917. Mas o seu primo Jorge V, rei de Inglaterra, recusara-lho, com receio da agitação política que poderia provocar no país anfitrião o acolhimento da figura de topo de um regime conhecido como autocrático.

Os bolcheviques tinham liderado a tomada do poder pelos sovietes em Novembro de 1917 e tiveram de lutar pela sobrevivência do novo regime contra exércitos russos contra-revolucionários e contra forças invasoras de vários países hostis à revolução. O czar e a sua família ficaram nessa fase detidos em Ekaterinburgo, próximo dos Urais. Foram tratados correctamente, embora sem privilégios: queixavam-se por exemplo de terem alimentação idêntica à da guarnição que os guardava.

O destino da família imperial estava longe de ser para a direcção bolchevique uma preocupação prioritária, embora a literatura memorialística posterior contenha várias referências a uma intenção de fazer julgar o czar, nomeadamente pelas suas responsabilidades no "Domingo Sangrento" de São Petersburgo, em que o massacre de uma multidão de peticionários pacíficos desencadeara a revolução de 1905 - "ensaio geral" para 1917.

Aconteceu porém que um dos exércitos invasores da Rússia soviética - o exército checo - se aproximava, nesse Verão de 1918, perigosamente de Ekaterinburgo. Do lado bolchevique, receou-se a certa altura que as forças checas libertassem a família imperial e, desse modo, se reanimasse do lado "branco", ou contra-revolucionário, a expectativa de uma restauração monárquica.

A decisão de executar a família real - o imperador, sua mulher e seus descendentes, em parte ainda crianças, com possíveis pretensões a uma sucessão dinástica - foi sempre atribuída à preocupação de impedir a restauração da monarquia. A polémica girou, no entanto, em torno da fonte da decisão.

Quando ela foi comunicada à família imperial, minutos antes da execução de todos os seus membros, foi-lhe comunicada como decisão do soviete local de Ekaterinburgo. No entanto, e como era expectável, desenvolveu-se sempre por parte dos inimigos do bolchevismo um esforço considerável para provar que a decisão vinha de Moscovo. Embora nunca se tenha explicado por que havia o soviete local de assumir uma responsabilidade tão pesada, se a decisão viesse de cima, em teoria não era impossível que isso sucedesse.