terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ex-líderes do Khmer Vermelho são condenados à prisão perpétua no Camboja


 

 

 Dois antigos líderes do Partido Comunista de Kampuchea, o Khmer Vermelho, foram condenados à prisão perpétua nesta quinta-feira depois de serem considerados culpados de crimes contra a humanidade por uma corte patrocinada pela ONU no Camboja. Essa foi a primeira sentença a líderes do regime que resultou em milhares de mortes.

Nuon Chea, 88 anos, e seu antigo chefe de estado, Khieu Samphan, 83, não emitiram nenhuma emoção na corte, mas sobreviventes do regime choraram e aplaudiram do lado de fora do tribunal em que as sentenças foram proferidas.

Eles foram declarados "culpados por crimes contra a humanidade, exterminação, perseguição policial e outros atos desumanos" pelo juiz Nil Nonn.


Os advogados dos réus disseram que vão apelar contra o veredito, mas o juiz afirmou que, enquanto isso, os ex-líderes deveriam permanecer em detenção.

— É injusto para meu cliente. Ele não tinha conhecimento ou não cometeu a maioria desses crimes — disse Son Arun, advogado de Nuon Chea.

Os promotores do caso buscaram a pena máxima aos réus, que tiveram papéis fundamentais no regime que matou mais de 2 milhões de pessoas entre 1975 e 1979.

Nuon Chea, usando óculos de sol de grife, sentou em uma cadeira de rodas enquanto o veredito era lido, enquanto Khieu Samphan ficou ao lado dele.

Alívio para os sobreviventes
O caso, que estava sendo julgado há dois anos, traz um alívio para os que sobreviveram aos anos do Khmer Vermelho, que matou um quarto da população do Camboja de fome ou trabalho excessivo.

— Essa é a justiça pela qual eu esperei nesses últimos 35 anos. Eu nunca vou esquecer o sofrimento, mas esse foi um grande alívio pra mim. É uma vitória e um dia histórico para toda a população do Camboja — disse Khieu Pheatarak, 70 anos, um dos sobreviventes que foi assistir ao veredito.

Ela foi forçada pelo exército do Khmer Vermelho a deixar sua casa na capital em 1975 enquanto o regime tentava criar uma utopia comunista agrária.

O plano levou ao colapso da economia e à fome em massa, enquanto o Khmer Vermelho perseguia, de forma sangrenta, os inimigos da revolução.

Os réus negaram o conhecimento dos crimes do regime à época, mas os dois expressaram remorso pelo sofrimento causado ao povo cambojano sob o domínio do Khmer Vermelho.

Apesar do veredito, muitas vítimas temem que a idade dos líderes do Khmer Vermelho faça com que outros culpados não vivam para cumprir suas sentenças.

O antigo ministro de Relações Exteriores Ieng Sary morreu aos 87 anos em 2013, enquanto estava em julgamento. A mulher dele, Ieng Thirit, foi liberada em 2012 por causa de problemas de saúde.

O caso complexo contra Nuon Chea e Khieu Samphan foi dividido entre diversos julgamentos menores em 2011 por causa da idade avançada e das diversas acusações contra os réus.

Liderado por Pol Pot, que morreu em 1998, o Khmer Vermelho cometeu atrocidades que afetaram virtualmente todas as famílias do Camboja.

No primeiro julgamento de membros do Khmer Vermelho, a corte sentenciou Kaing Guek Eav, antigo chefe do sistema prisional do regime, a 30 anos na prisão — na apelação, a pena foi aumentada para perpétua — por ser responsável pela morte de 15 mil pessoas.

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