sábado, 19 de fevereiro de 2011

BAHREIN EM TRANSIÇÃO

Gritavam vitória, abraçavam-se, choravam: milhares de pessoas correram ontem em êxtase para a praça Pérola, na capital do Bahrein. Algumas beijaram o chão onde havia ainda uma ou outra mancha de sangue de manifestantes feridos pela fúria repressiva das forças de segurança, testemunho da violência usada pelas forças de segurança.
Os manifestantes querem fazer da Praça da Pérola uma praça Tahir.

A euforia era proporcional ao estado de espírito do desafio: ninguém esperava que as autoridades cedessem, que as forças de segurança recuassem, especialmente depois das acções brutais desta semana, em que manifestantes desarmados foram afastados à força de gás lacrimogéneo, balas reais e granadas de fragmentação: morreram pelo menos seis pessoas e estima-se que mais de cem tenham ficado feridas.

As forças de segurança chegaram a atacar e a matar — uma vez, duas vezes —pessoas que estavam nos funerais de manifestantes mortos pelas forças de segurança.

Ontem, os primeiros manifestantes que tentaram dirigir-se à praça foram recebidos com gás lacrimogéneo pela polícia. Nessa altura já tinha sido ordenada a retirada do Exército das ruas — os militares tinham sido deslocados para o terreno na véspera — a condição que tinha sido colocada pelo Wefaq, o maior partido da oposição xiita, para um diálogo proposto pelo regime.

Mas os manifestantes enfrentaram a polícia e não recuaram. No frente-a-frente, aconteceu o inesperado: foi a polícia a abandonar o local. O medo dos manifestantes tinha desaparecido. “Não queremos saber se matam 5000”, tinha gritado um manifestante no hospital Salmaniya. “O regime tem de cair.”

O hospital tinha-se transformado no refúgio dos manifestantes, a sua retaguarda depois da polícia os expulsar da praça na quinta-feira. Centenas de feridos chegavam, com tiros de balas de fragmentação no peito, na cabeça, ferimentos-testemunho da brutalidade da acção.

“Massacre, é um massacre”, gritavam os médicos entre a azáfama do serviço de emergência, descreve o repórter Robert Fisk no diário britânico The Independent. Entre os pedidos de material, gritavam slogans anti-regime. Houve médicos atacados por tentarem levar feridos da praça. Cheirava a gás lacrimogéneo no hospital.

“Nunca fizeram nada por nós no passado”, dizia uma enfermeira ao repórter do diário britânico The Guardian em Manamá, entre soluços no corredor do hospital. “Agora estão a matar-nos.”

Depois de toda esta fúria repressiva, a bonança deixou os manifestantes num estado eufórico. O facto de poderem regressar à praça foi uma enorme vitória. E a seguir, veio a preparação para novas lutas: recomeçaram os preparativos para tornar a praça, uma enorme rotunda, num acampamento para os manifestantes, com um hospital improvisado, descreve a emissora britânica BBC — tal qual como a praça Tahrir nos dias da revolta egípcia.

Receio saudita

Há quem diga que a retirada do Exército e da polícia foi ordenada pelo príncipe herdeiro, Salman bin Hamad al-Khalifa, que na véspera apelara à calma e ao diálogo. Havia quem dissesse que a medida foi resultado da pressão norte-americana e do pedido do Presidente dos EUA, Barack Obama, para contenção na resposta a protestos.

A violência deixa os EUA numa situação delicada já que o Bahrein é uma importante peça no seu xadrez de apoios no Médio Oriente: é a base da 5ª frota naval norte-americana, importante centro logístico para os navios no Golfo Pérsico, e Washington teme ainda que o Irão tente estender a sua influência sobre os xiitas do Bahrein.

O país é um caso único no mundo, actualmente, de uma maioria xiita a ser governada pela minoria sunita. O forte descontentamento dos xiitas, que se queixam de discriminação, traz o medo de contaminação aos vizinhos com minorias xiitas oprimidas, como é o caso da Arábia Saudita.

E ontem, na cidade de Awwamiya, na zona xiita do Leste do país, um grupo levou a cabo um pequeno e silencioso protesto. Apesar de não entoarem slogans nem mostrarem cartazes, os manifestantes queriam protestar contra a detenção de vários xiitas sem terem sido julgados.
Não quero que mais uma Monarquia acabe como foi o Nepal por que os seus governantes não ouviram nem os seus assessores mais sensatos.
É hora de transformar o absolutismo em Monarquia Parlamentarista de verdade.
Me preocupa com os sistemas monárquicos e a vidas ceifadas nestes protestos , é momento para refletir .
Tem que dar mais abertura e oportunidades ao povo xiita para trabalhar e viver.
Não esqueçam que o petróleo já acabou.