terça-feira, 17 de maio de 2011

MONARQUIA DÁ SEMPRE SINAL DE CONTINUIDADE E ESTABILIDADE

A monarquia – constitucional, evidentemente, e não despótica – tem ainda qualidades redentoras? Os argumentos contra a manutenção de reis e rainhas são essencialmente racionais. Não é razoável, nestes tempos democráticos, atribuir uma atenção especial a certas pessoas exclusivamente na base da sua família de nascimento. Devemos realmente admirar e amar as monarquias modernas, como a Casa britânica de Windsor, e mais agora, simplesmente porque uma nova princesa foi extraída da classe média?

A monarquia tem um efeito infantilizador. Basta observar como adultos geralmente razoáveis são reduzidos a bajulações impressionantes quando lhes é concedido o privilégio de tocar uma mão real que se lhes estende. Nas grandes manifestações monárquicas, como o casamento real de Londres, milhões de pessoas tecem sonhos infantis de casamentos de “contos de fadas". O mistério envolvendo uma imensa riqueza, nascimento nobre e grande exclusividade é enormemente apoiado pelos meios de comunicação globais, que fazem a promoção desses rituais.

Pode-se sempre argumentar que a digna pompa da Rainha Isabel II é preferível à grandiloquência sórdida de um Silvio Berlusconi, de uma Madonna ou de um Cristiano Ronaldo. De facto, a monarquia – a britânica, em particular – vai-se reinventando através da adoção de algumas das características mais comuns da celebridade moderna, dos mundos do espetáculo e do desporto. E os mundos da realeza e das glórias populares sobrepõem-se muitas vezes.


Monarcas dão ao povo noção de continuidade
Da mesma forma, as estrelas de cinema são frequentemente vítimas de alcoolismo, drogas e depressão; mas pelo menos essas escolheram a vida que levam. O que não é o caso dos reis e rainhas. O príncipe Carlos de Inglaterra podia ter sido muito mais feliz como jardineiro, mas nunca teve sequer opção.

Um elemento a favor dos monarcas é que dão ao seu povo uma noção de continuidade, o que pode ser útil em tempos de crise ou de mudanças radicais. Graças ao Rei de Espanha, o pós-franquismo foi feito com estabilidade e sem ruturas bruscas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os monarcas europeus mantiveram vivas as noções de esperança e de unidade dos seus súbditos sujeitos à ocupação nazi.

Mas há ainda outro aspeto. As monarquias são frequentemente populares junto das minorias. Os judeus contaram-se entre os súbditos mais leais ao Imperador Austro-Húngaro. Francisco José I defendeu-os, quando os alemães antissemitas os ameaçaram. Segundo ele, judeus, alemães, checos e húngaros eram todos seus súbditos, onde quer que vivessem, do modesto “shtetl” de província às grandes capitais, como Budapeste ou Viena. Isso ajudou a proporcionar alguma proteção às minorias, numa época em que o nacionalismo étnico estava a crescer.

Nesse sentido, a monarquia é um pouco como o Islão ou a Igreja Católica: todos os crentes são supostamente iguais perante Deus, o Papa ou o Imperador – daí a atração que exercem sobre os pobres e os marginalizados.