segunda-feira, 14 de abril de 2014

Ex-líder do IRA é recebido em jantar de gala pela rainha Elizabeth

 

 

 
O presidente da República da Irlanda, Michael D. Higgins, iniciou nesta terça-feira (8) uma visita de Estado de quatro dias ao Reino Unido que marca a normalização das relações entre os dois vizinhos, quase um século após a independência dos irlandeses da monarquia britânica.

O compromisso mais importante do dia será o jantar de gala no Castelo de Windsor com a participação excepcional de um representante da Irlanda do Norte, o ex-líder do Exército Republicano Irlandês (IRA), Martin McGuinness.
Higgins foi recebido pela rainha Elizabeth II antes de discursar nas duas câmaras do Parlamento de Westminster, mas o convite da rainha Elizabeth ao católico McGuinness, de 63 anos, que durante 30 anos combateu a dominação britânica e protestante na Irlanda do Norte, é altamente simbólico e rouba a atenção da visita do presidente irlandês.
Ex-negociador no processo de paz e hoje vice-primeiro-ministro da província autônoma da Irlanda do Norte, McGuinness já tinha encontrado a rainha pela primeira vez em junho de 2012, quando ela foi a Belfast. Na época, a rainha trocou um aperto de mãos com o ex-guerrilheiro, selando uma reconciliação histórica.
O presidente irlandês, Higgins, de 72 anos, poeta e ex-ministro da Cultura, visitou várias vezes a Grã-Bretanha desde que assumiu o cargo em novembro de 2011. No entanto uma visita de Estado é uma oportunidade especial para Londres mostrar que as divergências do passado foram superadas.
Visita histórica
A Irlanda do Norte vivenciou trinta anos de conflito entre separatistas católicos e protestantes. Cerca de 3.500
pessoas foram mortas. A maioria protestante queria preservar os laços com a Grã-Bretanha, mas a minoria católica defendia a independência ou a integração da província com a República da Irlanda, ao sul, predominantemente católica. O conflito só foi resolvido em 1998, com a assinatura do Acordo de Belfast, que estabeleceu as bases para um governo compartilhado entre católicos e protestantes.
O Sinn Fein, braço político do antigo IRA, integra o governo biconfessional no poder em Belfast, apesar de seu objetivo continuar sendo a reintegração com a Irlanda. O presidente do partido, Gerry Adams, divulgou um comunicado no qual afirma que a presença de McGuinness na recepção ao presidente irlandês, ao lado da rainha Elizabeth, "é mais um exemplo do compromisso do Sinn Fein com um futuro baseado na tolerância e igualdade".
"Um processo de reconciliação é vital, e a participação de McGuinness no banquete em Windsor é um das etapas importantes", declarou o deputado do Sinn Fein Conor Murphy, presente à visita. "Ainda temos problemas para resolver, mas caminhamos em direção à reconciliação e ao estabelecimento de melhores relações" , acrescentou o deputado.
Famílias de vítimas
No campo protestante, famílias vítimas de atentados praticados pelo IRA defendem justiça. A presença de McGuinness no Castelo de Windsor é interpretada como "o último golpe dado a vítimas inocentes do terrorismo", disse à BBC na terça-feira, Stephen Gault, cujo pai foi morto em um atentado do IRA em 1987.
Dezesseis anos após o acordo de paz, os criminosos não foram todos condenados. Existe um debate entre aqueles que querem "virar a página", concedendo imunidade aos responsáveis pelos ataques, e famílias de vítimas que pedem justiça.

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